Janela dos meus pensamentos
"Os sismógrafos não escolhem os terremotos, reagem aos que vão ocorrendo, e o blog é isso, um sismógrafo." José Saramago
sexta-feira, 29 de junho de 2012
terça-feira, 24 de abril de 2012
segunda-feira, 9 de abril de 2012
O Jantar
Mãos
trêmulas, peito palpitante, respiração ofegante
e suor frio. Sentia-me em uma batalha cujo o meu maior inimigo era meu próprio
medo e havia alguém que gerava esse medo. Esse alguém era um homem de meia idade
com algumas rugas e alguns cabelos já grisalhos, mas eu não deveria
subestimá-lo. Sua aparência ainda que envelhecida demonstrava uma robustez inexplicável,
talvez resquícios de um passado não
muito distante. Seus olhos ainda que
cobertor por um óculos passavam um olhar
penetrante e intimidador. Sua voz ainda que roca demonstrava confiança e
bravura.
Era
para ser apenas um jantar, mas estava sendo uma prova de resistência para ver
quanto tempo eu duraria. O som dos talheres aos poucos foram se transformando
em sons de espadas, que se chocando moldam a guerra. A cada fala do meu
possível futuro sogro era como uma intimidação de guerra, a qual eu
deveria permanecer com minha feição
inabalada para não demonstrar fraqueza. Eu estava tão próximo daquela
caricatura amedrontadora que podia escutar sua respiração.A sala de jantar era
o campo de batalha a mesa a única distancia entre nós era aquela mesa , lá
decidir-se-ia o rumo de parte das nossas historias. Mal eu sabia que a noite
estava apenas começando.
Jantares
são imprevisíveis, principalmente quando um pretendente a genro janta pela
primeira vez na casa do seu possível futuro sogro. O sogro age como macho alfa demonstrando
poder, cabe ao genro respeitar, mas não deve demonstrar fraqueza. Na verdade demonstrar fraqueza
talvez seja o pior a se fazer. Mostrar fraqueza em frente ao possível futuro
sogro e demonstrar que você não possui as características essenciais para ser o
parceiro de uma prole que foi cuidada durante anos. Mas se você for muito
audacioso o macho alfa sente-se ameaçado e revida. Então um genro em seu
primeiro jantar deve demonstrar respeito sem medo e coragem sem audácia.
Difícil? Se serve de consolo: se você for vitorioso daqui uns anos você será o
macho alfa e vira um projeto de genro para
fazer os mesmo discurso que você fez anos atrás. Então você verá o quão
divertido foi para seu sogro lhe assustar um pouco.
Se foi
divertido para meu sogro aquela situação eu não sei. Só sei que para mim foi aterrorizante. Após algum tempo eu
não fazia noção de quanto tempo estava lá e muito menos o quanto ainda duraria
aquela tortura. Meu desejo era me render e sair de lá o quanto antes, mas
provavelmente eu perderia a minha motivação para o jantar e tudo o que eu
passei seria em vão. Eu estava relativamente sereno até o macho alfa apelar
para seu passado não muito distante, provavelmente quando ele tinha a minha
idade -essa tática deve ser tão velha quanto o mundo, tenta-se intimidar
demonstrando que quando você tinha a idade dele era mais capaz do que ele e com
a experiência se aperfeiçoou, ou seja você é superior- em suas palavras seus
dias dourados. Dias esses que lhe renderam gloriosos troféus de caça.
Pareceu-me que ele fazia questão de narrar seus abates nas savanas, sua
invejável pontaria e seu ato mais heróico um leão morto apenas com suas mãos.
Segundo o progenitor da minha amada, o leão o desarmou, vendo se não agisse
logo seria devorado agarrou-se ao pescoço do leão sufocando-lhe ate a morte. Se
verídica ou não essa histórica, naquele momento ele fez subir um frio pela
espinha que transformou a minha já pálida feição em cadavérica a ponto de me
perguntarem "Você está bem?" Minha
resposta ainda que falsa foi estratégica "Sim. Por qual motivo não
estaria?"
Após o
termino dos alimentos e de varias historias -algumas de veracidade duvidosa-,
meu então possível futuro sogro se animou e decidiu me mostrar seu álbum de
caçar e seu principal equipamento de caça -sua arma-. Quando ele se levantou em
direção a um baú velho sua esposa disse "Ah, você não vai mostrar aquelas
fotos após o jantar." Ele olhou e perguntou "Por que não?" e Ela
respondeu "Aqueles animais estão coberto de sangue, com as vísceras para
fora. Não. Hoje você não ira mostrar. Outro dia quem sabe." Quando eu
escutei "vísceras para fora" meu coração deu um aperto. Desistindo
das fotos meu intimidador pegou seu equipamento de caça: um sinistro rifle de
caça com ferrolho manual. Nunca havia visto algo como aquilo, para mim aquilo
não era um rifle de caça, mas um canhão antiaéreo. Portando a arma meu agora não
tão possível futuro sogro voltou a mesa colocando a corona da arma sobre sua
coxa e segurando o cano com as mãos começou a me relatar os atributos daquela arma "Sabe, não se
fabrica mais armas como essa. Essa munição derruba um rinoceronte com um único tiro!"
Eu tentando me introduzir na conversar disse "Ah, mas hoje tem-se armas
automáticas, então de certa forma compensa , pois lança vários projéteis em um curto período de
tempo." Ele não concordando com
minha fala disse "Besteira, do que adianta jogar um milhão de grão de
areia de você pode jogar uma pedra? E digo mais essas armas de plástico que
mais parecem brinquedos são uma ofensa a minha virilidade! Essa minha arma já
tem mais de 60 anos e a 35 está em minhas mãos e até hoje nunca empenou e nem travou
ela é mais confiável que uma mulher!" -nesse momento a sua esposa lhe
olhou com olhos de reprovação- Após esse pequeno relato do poder bélico da
referida arma meu estado emocional passou de apavorado para algo indescritível.
Logo
após essa especificação técnica da capacidade bélica sua arma de estimação aquela
caricatura de caçador olhou em meus olhos e perguntou "você sabe atirar?" E eu respondi "Mais
ou menos, por que?" Eu não sabia e até hoje não sei atirar, mas o que eu
responderia? Se disse que não daria uma brecha e se disse que sim ele
descobriria que eu não sabia! O meu erro foi perguntar "por que?",
pois imediatamente veio a resposta:
"É porque nos poderíamos sair um dia para caçar. Sabia que uma caça é uma ótima oportunidade para conhecer um homem e você pretende casar
com a minha filha, então acho que devo lhe conhecer melhor." Após essa
convocação com tom de convite minha alma se separou da minha carne. Eu achei
que seria o fim, mas a esposa do J.A. Hunter em uma tentativa de me acalmar
disse "Amor, você não acha que está meio velho para essas coisa?" E
ele retrucou "De jeito nem um! Eu tô velho, mas não tô morto."
Após
esse episodio o quase amigável jantar transformou-se em um interrogatório. Após
inúmeras perguntas perdi a noção do que respondia, só sabia que a cada pergunta
eu morria e ressuscitava. Após tantas e tantas perguntas chegou a tão esperada
pergunta. O Winter Hunter engelhou o cenho, olhou de forma frenética aos meus olhos e com um tom de voz ameaçador
perguntou "Você tem certeza que quer mesmo casar com a minha filha?"
Meu coração disparou, um frio subiu pela espinha, minhas pupilas dilataram,
minhas glândulas supra renais liberam as ultimas gotas de adrenalina que ainda
lhe restavam, minha feição tornou-se um branco indescritível e minha respiração
tornou-se tão ofegante que posso jurar que bati o recorde mundial de maior
freqüência respiratória da historia. Eu
tinha que responder algo, mas o que? O meu cérebro racional estava em silencio,
meu cérebro emocional discutia se meu amor era maior que meu medo então a
resposta coube ao meu cérebro reptiliano. Uma resposta que visava apenas a
auto-preservação: "NÃO! Quer dizer sim. Ah, não sei só não
quero acabar feito aquele leão."
segunda-feira, 2 de abril de 2012
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