sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Lições de Historia.


             Nesses últimos meses vimos as redes sociais servirem como uma ferramenta de mobilização social. Até pouco tempo essas  redes eram consideradas como uma rede de fofoca mundial, mas após a primavera árabe, a macha contra a corrupção em Brasília, a manifestação na Wall street, KDÊ PL e mais recentemente as mobilizações contra o S.O.P.A. (Stop Online Piracy Act) e o P.I.P.A. (Protect IP Act) a visão sobre essas redes começou a mudar.
            Analisando principalmente as mobilizações contra o SOPA e o PIPA que contaram com ataques cyberneticos à sites do FBI, MPAA, RIAA... Lembrei-me de algumas lições de Historia, principalmente da Primavera de Praga. De forma resumida a Primavera de Praga foi uma tentativa pacifica de libertação política da Tchecoslováquia do domínio da URSS. Tudo começou em 1968 quando Alexander Dubček chega ao poder e faz algumas medidas reformistas visando tirar a sombra de Stalin do regime do seu país. Essas reformas tinham um caráter liberal, na visão de  Dubček a falta de democracia, de liberdade de expressão, o unipartidarismo, o despotismo, o autoritarismo estavam atrapalhando o socialismo. Moscou temendo que essa experiência checa se espalhasse pela URSS em 21 de agosto de 1968 com tanques do pacto de Varsóvia invadiu Praga. Soldados soviéticos prenderam Dubček e o levaram para Moscou. Até ai parece a histórica tentativa de reforma dentro de uma ditadura, mas algo aconteceu a população se revoltou, mas sem armas.
            Ao meu ver essa é a parte mais interessante da primavera de Praga, pois é possível contextualizar com nosso mundo atual, por exemplo: A primavera árabe teve o apoio das redes sociais. A primavera de Praga radiotransmissores desempenhou essa função. Um jovem Tunisio cometeu a auto-imolação. Um jovem checo chamado Jan Palach cometeu a auto-imolação para protestar contra o fim das medidas de Dubček.        Deixando um pouco de lado essas similaridades históricas observe as lições de Historia que a revolução de Praga tem a nos dar. A resistência através de rádiostransmissores espalhados pela cidade informavam sobre o que estava ocorrendo e davam instruções à população de como reagir a invasão. Para impedir a triangulação da transmissão cada radiotransmissor transmitia por apenas nove minutos e depois parava e outro continuava a transmitir. As instruções transmitidas eram diversas e seus graus de complexidades também, iam desde não colaborar com os soldados por meio do decálogo da não-colaboração (não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!), fazer barricadas humanas e gritar "Volte para casa Ivan",  a cercar e sabotar os imponentes tanques soviéticos, mudar as placas sinalizadoras dos trens e a direção das linhas ferroviárias -o que dificultou que trens com soldados e equipamentos chegasse em Praga-.
            A revolução não saiu vitoriosa, pois Dubček foi coagido à assinar um termo de rendição. O motivo que o motivou foi uma falsa informação, disseram-lhe que a população checa estava sendo massacrada da mesma forma como a húngara fora a alguns anos atrás.
            Eu gosto da Historia, pois ela nos dar importantes lições para lidar com o presente. Caro leitor, quais lições você percebeu com a revolução de Praga? Quais as suas importâncias para o nosso atual contexto? Podemos aplicá-las hoje? Veja a população Checa estava em desvantagem militar, eles não tinham muitas alternativas. Podiam pegar suas armas e lutar contra blindados, podiam aceitar o controle, mas optaram por resistir de uma forma estilo soldado Chveik. Hoje estamos como os Checos e não falo apenas do S.O.P.A. e do P.I.P.A. Em nosso próprio país tratam-nos como simples dominados, fazem um código ambiental visando a bancada ruralista, os rumores do novo código penal dizem que nossa liberdade de expressão pode ser reduzida, os salários de nossos lideres têm reajustes nunca vistos, CNJ é impedido de quebrar o sigilo bancário de nossos juízes... Quanto ao mundo, as medidas econômicas para combater a crise beneficiaram a quem? Alguns chefes de Estado abdicaram do poder -para não dizer depostos- porque não concordavam com as medidas tomadas para o seu país. O desrespeito a cultura alheia como ocorreu na França no caso das burcas. Os próprios projetos anti-pirataria S.O.P.A. e P.I.P.A. O que podemos fazer diante disso? A medida mais equilibrada é simplesmente expor a sua opinião. Diga que não concorda com o encaminhamento que estão dando à humanidade. Por mais simples que isso pareça tem uma eficiência tremenda caso contrário, para que tanto pão e circo? Para que controlar tanto os meios de comunicação? Porque deixarmos nas trevas da ignorância?  Porque a ditadura impedia que cada um desse sua opinião?
            Se você tem uma opinião diga, fale, escreva, grite. Uma voz sozinha pode até não ser escutada, mas um coro de um milhão é uma outra historia, Miguel Nicolelis que o diga. Em seu livro Muito além do nosso ele usa a sua experiência na manifestação pelas diretas já para ilustrar as redes neuronais. "Se você, caro leitor, nunca teve a oportunidade de participar de um coral formado por 1 milhão de vozes, eu certamente recomendo a experiência. Nada pode nos preparar para o som penetrante que nasce dessa sinfonia de anseios e desejos; e nada desse lado da Via Láctea fará você esquecer essa musica, esse quase pranto, pois ela, como ele, carrega o tipo de som que entalha memórias para toda uma vida. Para enquanto durar o sempre de uma vida mortal."(Muito além do nosso eu, pag. 30).
             Até pouco tempo eu tinha uma visão semelhante a de Saramago sobre as redes sociais, mas essa minha visão mudou e vem mudando. Pude perceber que elas são o ambiente perfeito para propagar idéias, mesmo que seja em pequenos pios. Percebo que hoje uma parcela maior da sociedade tem noção do que ocorre a sua volta e se essa parcela falar a outra o que sabe, bem alguns lideres verão o florescer de uma primavera. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Artigo sobre o BBB* – Luís Fernando Veríssimo

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. [...] Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. 
[...] Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade. 
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? 
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados. 
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo santo dia. 
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. 
Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns). 
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo. 
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!! 
Veja o que está por de tra$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão. 
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores). Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. 
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.